domingo, 10 de maio de 2015

Quem me dera ser um babaca.

Faz um tempo que não escrevo aqui, aliás faz um tempo que eu não escrevo. Mas ultimamente tenho me sentido tentado a digitar um punhado de palavras amontoadas sem qualquer concordância e ignorando regras básicas de pontuação. Bem, nunca fui um aluno exemplar de língua portuguesa.

A questão é que as reflexões do meu cotidiano têm sido cada vez mais infernais dentro da minha cabeça e por não me sentir à vontade discutindo isso diretamente com alguém, resolvi publicar isso na internet. Oras, existe lugar melhor pra afirmar categoricamente coisas sem sentido e sem embasamento nenhum? Não, não existe. Não estou preocupado com quantas pessoas vão ler isso aqui, aliás até me incomoda o fato de alguém ler isso aqui. Porque estou publicando isso? Que loucura.

O que me aflige e causa boa parte dessas tais reflexões é algo complexo de descrever com uma palavra, na verdade talvez me falte vocabulário mesmo, mas o fato é que a forma como as pessoas vivem nessa tal de contemporaneidade me incomoda e muito. Toda essa coisa de ser quem você aparenta e não quem você de fato é, de construir sua identidade com um perfil de rede social, de julgar as pessoas pela vida social delas e não pelo que fazem quando estão sozinhas, ou seja, pelo tal do caráter ou algo desse tipo, não sei, posso estar cagando regra, perdão. Afinal o que define quem realmente somos?

Não sei até que ponto o fato de ter sido criado apenas por mulheres, todas bem mais velhas e com valores “antiquados” (são valores antigos, mas consistentes a maioria resiste à essa maluquice efêmera da tal “modernidade líquida”) influi nessa opinião que formei do mundo, mas essa histeria das aparências realmente me atormenta. E mais ainda me atormenta a maneira como as pessoas valorizam essa babaquice. Daí o título. Admito, queria mesmo ser um babaca e viver tudo isso sem questionar, me sentir parte de alguma coisa, mesmo sem saber de que, medir minha felicidade pela quantidade de likes que ganhei na minha ultima postagem ou pela quantidade de meninas com quem eu saí nos ultimos anos. Só que infelizmente não tive essa sorte de ser abençoado com ignorância, me preocupo minunciosamente com o significado das coisas e me importa muito mais quem me deu um like e com que eu vou sair ou deixar de sair.

A quantidade raramente me despertou interesse, eu quero ser reconhecido por alguém que eu admiro, quero sair com alguém por quem eu realmente me apaixone, alguém que me acrescente algo e para quem eu possa fazer o mesmo. Chego a me sentir mal quando consigo um “match” novo no tinder, ali do outro lado tem alguém que eu provavelmente vou decepcionar, não porque eu vá maltratar, ser escroto, usar e jogar fora, mas porque eu provavelmente não vou sentir nada e não vou me apegar e eu não tenho como controlar o que aquela pessoa vai sentir por mim, possíveis esperanças que ela pode vir a criar. O contrário chega a acontecer também, às vezes as falsas esperanças ficam por minha conta e eu idealizo a pessoa de forma tola e juvenil. A primeira situação teve um exemplo que ocorreu recentemente, há poucas semanas uma menina ficou empolgadíssima por que elogiei o cabelo dela e ficou dando indiretas (bem diretas, diga-se de passagem) sem parar, me chamou pra uns 3 lugares diferentes, incluindo a casa dela, em menos de 10 minutos de conversa. Obviamente eu fui tentando desconversar e manter uma conversa civilizada, pra tentar criar algum interesse por ela antes de qualquer decisão precipitada, mas não funcionou e acabei tendo que ignorá-la e conviver com a culpa de ter sido um escroto do cacete.

O que me incomoda nessa história toda é que situações como essa, combinadas com momentos depressivos e reflexivos chegam ao ponto de colocar em xeque a concepção que tenho de mim mesmo enquanto homem. O que talvez se justifique com a parte do discurso feminista que afirma que os homens também são prejudicados pelo machismo, vendo por esse lado, de fato são e bastante. Esse discurso é muito interessante e mente aberta, quebra algumas convicções sobre o papel do homem na sociedade e nos relacionamentos, porém na prática raramente vejo isso se aplicando, na hora do “vamo ver” o tal do padrão “machista” acaba se impondo e massacrando quem não consegue se enquadrar direito nele nem forçando a barra. Tá certo que eu não posso, por exemplo, cobrar de uma pessoa que ela queira algo comigo só porque eu sou legal e respeitoso com ela, mas falando sério, com que frequência se consegue algo além de uma amizade sendo legal e respeitoso? Sério, sem aquele papo de “não é bem assim”.
É óbvio que existem exceções, que eu poderia até dizer que são as famosas “confirmadoras de regra”, mas na maioria dos casos o caminho mais fácil sempre passar pelo “não valer nada” e pelo ser escroto com a outra pessoa. Tanto pro cara que joga piadinhas machistas e força a barra em algumas situações, quanto pra menina que finge que não leu e demora pra responder uma mensagem, que ri com aquele “rs” sem graça pra “fazer doce” ou “dar uma valorizada”, como se a conquista fosse uma negociação de uma mercadoria.

Essas relações humanas cada vez mais degradantes e deprimentes reforçam a cada dia meus hábitos introspectivos e me afastam cada vez mais do convívio social. Pensar sobre essas coisas no banho, na cama, com a testa no vidro do ônibus ou enquanto espero uma aula começar é algo torturante, mas é a unica coisa que me resta, já que não consigo me encaixar nessa maluquice incessante de tentativa e erro, ambos proporcionados por babaquice e escrotidão. Fico por aqui, na minha, errando sem tentar, sendo escroto sem querer e lamentando a falta de ignorância que provavelmente me manteria feliz por mais tempo.